domingo, 29 de outubro de 2017

Vitória de Pirro

Fui ver o jogo a Vila do Conde com o meu amigo Júlio Pereira. Saí desembestado do trabalho, depois de uma trapalhada com um exame da época especial que andava esquecido. O trânsito no Porto estava caótico. Contra o costume, fintei não sei quantas filas de carros e armei-me em parvo. Pelo caminho, fui carregando o telemóvel no computador e combinando o encontro com o Júlio Pereira, que passava por deixar a mochila em casa dele e comer qualquer coisa. A primeira grande surpresa ao chegar ao estádio foi ver tanta gente jovem nortenha do Sporting. A maior parte deles não sabe o que é o Sporting campeão. Somos um grande clube, somos sobretudo os melhores pais do Mundo!

A noite estava magnífica. Uma verdadeira noite de Verão, mas sem incêndios. A bancada tinha de tudo um pouco. Ricos, remediados e pobres. Homens, mulheres e crianças. Barrigudos, tísicos e assim-assim. Altos, médios e baixos. Para espanto meu, havia umas senhoras muito interessantes, que pareciam dialogar furiosamente no “WhatsApp”.

O jogo começou com a história do “ataque posicional” do Jorge Jesus. Cada equipa tentava contrariar o tal “ataque posicional” da outra. Parecia um jogo de xadrez, mas a correr. Falando em correr, a nossa equipa ainda avançou duas ou três vezes para contrariar o tal “ataque posicional” do Rio Ave. De cada vez, ia menos um. A partir da terceira, passaram o Bas Dost e o Podence a fazer papel de tontos. O Rio Ave começou a jogar ao meinho, até o Fábio Coentrão se enervar e sair disparado atrás de um deles até lhe ganhar a bola.

O nosso meio campo continuava a funcionar em modo burocrático, com o Bruno Fernandes sem saber bem se devia avançar ou recuar. As jogadas repetiam-se de forma enfadonha. O William Carvalho recebia a bola e envia-a ao Coates para os “devidos efeitos”, que depois de a trocar com os colegas, na expetativa que algum se “entalasse” e se “atravessasse”, a remetia novamente para o William Carvalho “à consideração superior”. Concordando, devolvia-a para que se procedesse à respetiva “audiência prévia”. O Coates e os seus colegas embaralhavam-se no “contraditório” com os adversários, até que alguém destinava a bola ao “Bas Dost” para “devida sequência”. O Bas Dost procurava dar a sequência possível, mesmo que inconsequente. No Sporting como na administração pública, procura-se avançar passando sempre a bola para trás como no “rugby”. Fomos para o intervalo empatados, graças a São Patrício e à falta de jeito dos avançados do Rio Ave para rematar à baliza.

Voltámos para a segunda parte sem o Podence e com o Battaglia. No meio-campo, os duelos começaram a fiar mais fino. O Bruno Fernandes, mais liberto, começou a pegar no jogo. Só que foi Sol de pouca dura. Por volta dos sessenta minutos a equipa tinha “dado o berro”. Chegava a ser penoso ver o esforço que faziam o Gelson Martins e, sobretudo, o Acuña quando tentavam correr: tentavam é a palavra certa, dado que o Acuña nem correr conseguia, embora parado jogasse melhor que muitos outros a correr. O Rio Ave ficou por cima do jogo e só um milagre nos podia dar a vitória. O milagre aconteceu com o Bruno Fernandes, cerca dos sessenta e nove minutos. Estranhamente, o vídeo-árbitro continuava ligado.

O Jorge Jesus não foi de modas e meteu o Doumbia, o “joker” do costume. A relação dele com a bola e jogo não é a melhor, mas os adversários ficam desconfiados quando passamos a jogar com dois avançados. Começa-lhes a passar pela cabeça que queremos ganhar o jogo e, assim sendo, o melhor é deixá-lo correr até ao empate final. O Jorge Sousa também entendeu que se tinha negociado este armistício, e ainda parou mais o jogo, com faltas e mais faltas e grandes explicações aos jogadores. Começava a combinar com o Júlio Pereira o sítio onde iríamos beber umas cervejas, quando o Battaglia desobedeceu ao Jorge Jesus: ganhou uma bola no meio-campo e desatou a correr como se não houvesse amanhã, depois de a passar ao Acuña, para a receber mais à frente e cruzar de primeira para o Bas Dost a enfiar lá dentro. O Battaglia é um jogador intelectualmente muito limitado. Só faz o simples e óbvio, ganha bolas aos adversários, passa-as aos colegas, corre até lhas fazerem chegar para as entregar ao Bas Dost, acabando a tirar “selfies” com os adeptos. Até ao final foi um verdadeiro sufoco. Valeu-nos o Patrício que parecia não saber se estava canonizado e fez tudo para sair de Vila do Conde com o São.

A conferência de imprensa foi o “must” habitual do Jorge Jesus. Em vez dele, devia passar a estar o médico, para anunciar as baixas e começar e preparar as baixas seguintes. A continuar assim, com mais uma Vitória de Pirro como esta e estamos perdidos. Não se percebe como é que se esticam jogadores até caírem para o lado, como o Mathieu e o Piccini, ou se andarem a arrastar, como o Acuña, à espera de uma lesão muscular. Espremem-se os uns jogadores para se acabar a lançar outros, como o André Pinto, que não comprometeu, sem tempo de jogo. Ou muito me engano ou o próximo jogo contra a Juventus vai acabar por umas semanas com uns tantos jogadores.

"Are you talking to me?", made in Júlio Pereira

(Nunca tinha presenciado a receção dos jogadores no final. É muito comovente. Os adeptos, sobretudo os miúdos, ficam doidos quando eles se deslocam para o autocarro. Estupidamente, muitos deles reagem de forma muito fria, não se dando ao trabalho de os ir cumprimentar. Salvaram-se o Battaglia, o Bruno Fernandes, o Gelson Martins e o Jorge Jesus. É inimaginável a alegria de um pequenote, que estava às cavalitas do pai, quando se abraçou ao Francisco Geraldes que lhe passava ao lado. Fazem mais os abraços e as “selfies” que toda a banha da cobra da estratégia de comunicação do Sporting. É imperioso rever esta situação. Senti vergonha de alguns jogadores do Sporting, nomeadamente do William Carvalho, que saiu com os auscultadores encafuados nas orelhas. Não lhes custa nada e para os adeptos vale uma vida)

5 comentários:

  1. O teu P.S. diz tudo sobre o que devia ser um jogador do Sporting nestes dias e como o clube só tinha a ganhar se aproveitasse esse é outros momentos para promover o clube junto dos mais e menos jovens.

    Vedetismo vs. humildade.

    É por isso que Bataglia já conquistou os sportinguistas, dentro e fora de campo.

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  2. O teu P.S. diz tudo sobre o que devia ser um jogador do Sporting nestes dias e como o clube só tinha a ganhar se aproveitasse esse é outros momentos para promover o clube junto dos mais e menos jovens.

    Vedetismo vs. humildade.

    É por isso que Bataglia já conquistou os sportinguistas, dentro e fora de campo.

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  3. Meu caro,

    Não sei se tem de ver com vedetismo ou com a mais completa insensibilidade às emoções dos outros. Dá no mesmo. Foi uma vergonha. Estou rendido ao Battaglia dentro e fora do campo.

    SL

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  4. Um pouco mais de reconhecimento pelos adeptos que sustentam o clube que lhes paga...não defendo que essa cultura lhes fosse imposta mas a estratégia da dita comunicação do clube podia fazzer-lhes sentir isso

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    Respostas
    1. Meu caro,

      Mete-me confusão que seja necessário dizer aos jogadores para fazerem o que parece óbvio e devia ser natural. Só quer dizer que os nossos jogadores deixam a desejar, com excepção de alguns.

      SL

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