terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Sporting é uma paixão! Grito lancinante de um leitor

A situação não é fácil. Não é dramática, porque dramáticas são outras coisas que nos acontecem na vida. Agora, o Sporting podia aliviar os nossos dramas. Deixo-vos um comentário escrito, ontem, por um nosso leitor, que escreve sob o pseudónimo de Sporting Pensado.

"Foi mau demais. Foi angustiante. Foi de levar ao desespero. Uma equipa perdida psicologicamente e sem capacidade para impor a sua qualidade em campo. Não há otimismo que consiga resistir ao que se tem passado, semana após semana, quando o Sporting entra em campo. Voltámos a não sofrer golos, algo que só tinha acontecido com o V. Guimarães e o Basileia, mas, por outro lado, o ataque foi miserável. Sem dinâmica, sem desequilíbrios e com uma estratégia muito mal pensada, à espera que a consistência da mediocridade pudesse fazer a diferença. Oceano também é culpado, muito culpado. Afinal de contas, isto também é o Sporting.

Gosto de acreditar que aprendi a ser do Sporting; ninguém me ensinou; ninguém me forçou ou indicou o caminho. Encontrei uma figura a copiar na família e percebi com ela o sportinguismo. Dava-me lições do que era o Sporting mas sem me impor o que quer que fosse. Mostrava-me o que o clube tinha de bom sem sequer precisar de dar a entender o que tinha de mau. Era a fase do jejum, ninguém deixava passar isso em claro. Não faltavam adultos a promover lavagens cerebrais, a ridicularizar o Sporting e a vangloriar o Benfica. Ser do Sporting era mais do que isso, era ter orgulho.

É perfeitamente natural que tenha uma visão mais romântica daquele tempo, de achar que naquela fase, apesar de não ganharmos, é que era. Para mim, era porque havia Balakov, um mago búlgaro que fazia tudo. A classe abundava naquelas equipas, com Figo, Cadete, Peixe e até Nélson e Paulo Torres pareciam dois laterais de fazer inveja a todos os adversários. Ofensivos como se queria numa equipa como a do Sporting. Mas, sejamos honestos, essa geração apareceu num período em que o Sporting esteve 13 anos sem ganhar um único campeonato, uma única Taça de Portugal. Salvou-se uma Supertaça, a que fomos por termos perdido a Taça de Portugal. Por outro lado, tenho a certeza que quem tenha nascido dez anos antes, dirá o mesmo do que eu, mas sobre António Oliveira ou Manuel Fernandes; e que quem veio depois terá o João Pinto ou o Hugo Viana como referências. É sinónimo do romantismo o que sentimos quando estamos a crescer em volta de um fenómeno.

O mundo mudou. O Sporting parece estar imerso numa nova fase terrível, e leio constantemente desabafos de adolescentes que dizem que o Sporting não é isto. Têm 15, 16, 17 anos. Faço as contas e vejo que não sabem o que dizem. Só por terem aprendido a falar enquanto se ganhavam títulos, não quer dizer nada. O Sporting não devia ser isto, isso sim. Mas é isto. É isto agora, foi isto há 20 anos, foi isto praticamente desde a década de 60, em que se contentava em ganhar um título a cada três do Benfica.

E que posso dizer mais? Este Sporting está capaz de envergonhar o adepto mais otimista, mas ser do Sporting continua a ser um orgulho. Ser do Sporting é ser diferente, sim. Não é melhor, nem pior, é diferente. Ter liberdade de escolha e optar pelo Sporting é único. Não é ser alternativo ou hipster, mas ter personalidade. Não é ser refém do "maior de Portugal" ou do que ganha mais. É abrir os olhos, ponderar e escolher um caminho, porque a vitória não pode ser o único fundamento de uma escolha, de uma paixão.

Sofro com este Sporting. Sofro eu, sofres tu, sofrem os adolescentes que acreditam que isto não é o Sporting. Infelizmente, já não sofre quem me mostrou o que era ser do Sporting. Já morreu e é uma pena. Faz-me falta ter alguém tão próximo com quem partilhar este orgulho.”

3 comentários:

  1. Grande pedaço de literatura. Uma leitura deliciosa, cheia de emoção. Muito obrigado pela partilha!

    No entanto deixe-me discordar no cerne da questão.
    O Sporting dos dias de hoje, é um clube, sem rumo, sem estrategia, sem luz ao fundo do tunel, sem qualquer esperança.
    Eu sou da geração dos que via o Sporting perder as esperanças no Natal.
    Com um campeonato a cada 10 anos, já ficava contente. Uma taçazinha pelo meio, e a festa estava feito.

    O Sporting de hoje, não é o meu Sporting. É um Sporting sem qualquer chama, na qual já não acredito, e ou muito me engano não voltarei a acreditar tão cedo.

    É esta a grande de diferença, perdi a esperança....

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  2. Caro NPR,

    Sendo verdade que o "Sporting de hoje" está irreconhecível (pelas piores razões!), não há que perder a esperança.
    Esta época vai ser terrível, correcto.
    Mas o SCP tem a "matéria-prima" (leia-se, equipa B e juniores, e não as abéculas que envergonham o Clube na 1ª divisão) para voltar a ser (muito) relevante rapidamente.
    Tenhamos fé.
    SL

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