sexta-feira, 1 de julho de 2011

Obrigado Zé ou a memória de um tempo que parecia eterno

O Carlos Serra, nosso leitor, lembrou-nos que hoje o Sporting faz 105 anos e interpelou-nos a falar sobre a efeméride. Dificilmente se pode negar o que quer que seja a um leitor como o Carlos Serra.

Dei comigo a pensar porque sou do Sporting. Não nascemos com nenhuma predisposição para tal. Pode ter sido, como habitualmente, para contrariar o meu pai, que era do Porto. Pode ter sido para mais facilmente ter lugar nas peladinhas Benfica contra Sporting no recreio da escola. Pode ter sido também porque nasci do contra e desde logo ter sido contra a maioria, que era e ainda é do Benfica.

Mas, provavelmente, sou do Sporting por causa do Zé. O Zé vivia connosco em Viseu. Os pais estavam na Guiné. Era um pouco mais velho do que eu e era do Sporting. As minhas primeiras memórias sportinguistas são junto dele em 1974. Com a vitória épica na final da Taça de Portugal contra o Benfica; empatámos 1 a 1 quase a terminar o período regulamentar e ganhámos no prolongamento por 2 a 1. E a derrota com o Magdeburgo na meia-final da Taça das Taças por 2 a 1, fora, depois de um empate 1 a 1 em casa. Lembra-me de um jogador do Sporting falhar o 2 a 2 quase a acabar o jogo, que nos levava à final.

A sina estava traçada. Uma vitória épica quando nada o fazia prever. Uma derrota quando estivemos a um pêlo da final. A partir daí foi sempre assim. Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Depois fui do Sporting todo. Do Livramento, Ramalhete, Rendeiro, Sobrinho e Chana; do Carlos Lopes, Fernando Mamede e Moniz Pereira; do Carlos Lisboa, Nelson Serra e Rui Pinheiro; do Carlos Silva, Miranda e Manuel Brito; do Damas, Manuel Fernandes, Jordão, Acosta, André Cruz, Jardel. Fui do Sporting nas vitórias e nas derrotas.

Às vezes penso se ser de um clube e, no meu caso, do Sporting quer dizer alguma coisa. Racionalmente talvez não queira dizer nada. Pode ser uma mera alienação. Mas talvez seja o último lugar de sociabilização, partilha e pertença. Seja como for, o Sporting faz-me falta. Seja como for, obrigado Zé.

6 comentários:

  1. "E a derrota com o Magdeburgo na meia-final da Taça das Taças por 2 a 1, fora, depois de um empate 1 a 1 em casa. Lembra-me de um jogador do Sporting falhar o 2 a 2 quase a acabar o jogo, que nos levava à final."

    Eu recordo um lance muito parecido...eliminatória da UEFA com Real Madrid de Laudrup.Depois de um jogaço em Bernabéu, a acabar o jogo em ALvalade, Jusko cabeceia ao poste e a bola passeia junto á linha de golo. Cadete parecia que ia chegar á bola e encostar...o estádio ficou mudo...e qual homem estátua, o goleador de glasgow nem se fez á bola. Nascemos para sofrer mesmo.

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  2. Sou do Sporting porque no final da década de 40 do século passado ainda jogava o Peyroteo. E se jogava, caramba!

    É certo que o meu tio preferido, que me levava para todo o lado, era do Benfica. É certo que o meu primo Fernando, quase um irmão, era do Benfica.

    Mas quem marcava golos era o Peyroteo (o meu tio e, sobretudo, o meu primo, bem me vinham com o Rogério Pipi. Fraca comparação!). E quem ganhava campeonatos era o Sporting.

    E, depois, ainda havia o Vasques (de quem tenho uma história (ridícula) de que foi protagonista um dos nossos presidentes - Sousa Cintra - que mais me envergonhou), o Jesus Correia, o Albano, o Travassos - o nosso Zé da Europa, assim chamado por ter sido o primeiro futebolista português seleccionado para uma Selecção da Europa - e o Azevedo. À excepção do Azevedo ainda os vi jogar a todos.

    A primeira grande tristeza tive-a na final da Taça de Portugal dos 5-4, em que o "maldito" Pipi foi o nosso carrasco. Houve outras, mas as alegrias compensam as tristezas, apesar dos últimos anos de aparente decadência.

    Ah!, e temos realmente 105 anos de vida activa, sem termos que ir buscar as datas da fundação de outros clubes por onde andaram alguns dos fundadores do Sporting, ou desencantar datas no século XIX, sem conseguir depois dar notícia de nenhuma actividade durante os 30 anos seguintes, como acontece com um certo clube do Norte.

    Enfim somos SPORTING, um Clube com História, e sem maquilhagem.

    Um abraço, e muito obrigado pelo vosso blogue.

    Carlos Serra

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  3. Caro jonnybalboa,

    Hoje, como há vinte ou quarenta anos atrás. Ser do Sporting é continuar a esperar que a bola entre, mesmo quando temos quase a certeza que vai bater no poste, percorrer a linha de golo e sair.

    SL

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  4. Caro Carlos Serra,

    Ser do Sporting é ter respeito pelas nossas memórias e pelas memórias dos outros. Mais velhos, mais novos, todos temos as nossas. Todas juntas fazem o Sporting.

    Um abraço.

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  5. Só quem é do Sporting, consegue entender. Muito obrigado aos Zés deste mundo (no meu caso, também se chamava Zé e era meu Pai).

    Um grande abraço
    Francisco Martins

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  6. Caro Frnacisco,

    Este ano vamos ver o Sporting juntos (no mínimo o jogo do título). Continua aberto o convite para escreveres aqui também. Esse convite é extensível ao António.

    Um abraço.

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