domingo, 17 de abril de 2011

Sporting Clube de Portugal ou Portugal Sporting Clube?

Procurando continuar a explorar a minha veia de Querido Manha (sim, esse mesmo, o jornalista da TVI cuja isenção no comentário futebolístico, só é superada, em algumas ocasiões, pelo Barbas ou Jorge Máximo), recorro, então, à análise descuidada de umas quantas estatísticas e de outras tantas cartas Tarot, para mandar uns “bitaites” (epa, desculpe lá o mau jeito, Professor!) sobre as estratégias adoptadas nos últimos anos pelos três grandes na constituição dos seus plantéis de futebol profissional.
No caso do Porto, a estratégia de recrutamento tem duas orientações muito claras: (i) jovens emergentes dos melhores campeonatos sul-americanos (Argentina, Brasil, Uruguai, Colômbia), com elevado potencial de valorização e/ou, pelo menos, sem grandes riscos de desvalorização; (ii) jogadores mais promissores do campeonato nacional, onde o Porto, por competência, mas também por cumplicidades várias, se assume como rei do mercado. Como reverso, a aposta nos tradicionais bons valores da cantera portista tem sido quase nula! Do actual plantel portista apenas 29% são portugueses. Dos 11 jogadores mais utilizados pelo Porto na Liga Sagres 2010-2011 somente 3 são portugueses (Rolando, Moutinho e Varela). Desses três, nenhum é oriundo da cantera portista (como se sabe, dois deles são provenientes da formação do Sporting).
Já no Benfica, a coisa é mais confusa e aleatória. Mesmo assim, nos últimos anos, parece ter evoluído de uma estratégia de compra de jogadores por atacado (novos ou velhos, nacionais ou estrangeiros, com fundos, ou com empresários…) para uma aposta clara também na aquisição de valores emergentes dos melhores campeonatos sul-americanos (com alguma similitude à estratégia do Porto), temperada com jogadores mais experientes provenientes de Ligas europeias competitivas em busca de oportunidades para reabilitar a sua carreira. Contudo, mantendo a sua tradição de há muitos anos a esta parte, a aposta na formação benfiquista, tem sido… zero! Com efeito, do actual plantel do Benfica apenas 30% são portugueses. Dos 11 jogadores mais utilizados pelo Benfica na Liga Sagres 2010-2011 somente 2 são portugueses (Fábio Coentrão e Carlos Martins), não sendo nenhum deles oriundo da formação benfiquista (um provém do Rio Ave e o outro do Sporting).
No Sporting, antes dos catastróficos 18 meses de Bettencourt, a estratégia encontrava-se sustentada, fosse por convicção, ou por obrigação, numa forte aposta na cantera leonina, valorizada com alguns jogadores mais consagrados (Liedson, Polga, Romagnoli, Matias Fernandez, Izmailov,…) que procuravam atingir ou, na maioria dos casos, redescobrir o sucesso futebolístico no Velho Continente (é certo que também existiram diversos flops de contornos mais ou menos aleatórios, mas, na generalidade dos casos, eram jogadores emprestados). No período pós-Paulo Bento, passamos a uma estratégia de ataque ao mercado “por atacado”, enfim, algo mais do agrado mediático e um pouco “à Benfica” dos velhos tempos. Ainda assim, 56% dos jogadores do actual plantel do Sporting são portugueses. Seis dos 11 jogadores mais utilizados pelo Sporting na Liga Sagres 2010-2011 são portugueses. Desses, três são oriundos da cantera leonina (Rui Patrício, André Santos – entretanto já internacionais A - e Daniel Carriço), dois da formação do Benfica (João Pereira e Maniche) e um dos escalões jovens do Porto (Hélder Postiga).
Enfim, se o Sporting não tivesse apostado de forma consistente na formação nos últimos anos e, pelo contrário, tivesse optado por uma estratégia semelhante à do Porto e do Benfica, qual seria a base de recrutamento da actual Selecção Nacional? Como estaria a Selecção Nacional se a sua base de recrutamento se sustentasse no Rio Ave, no Beira-mar ou no Paços de Ferreira, as únicas equipas da Liga Sagres que, em termos percentuais, apostam mais em jogadores nacionais do que o Sporting?  Por exemplo, se o Sporting não tivesse lançado e apostado de forma persistente em Nani, em Moutinho, em Patrício, em Veloso, em Quaresma, ou mesmo em Carlos Martins, esses jogadores teriam atingido a Selecção Nacional A? (não vou falar em Cristiano Ronaldo, porque esse “extra-terrestre” é, já hoje, simplesmente, aos 25 anos, o melhor futebolista português de sempre). Porque é que a Comunicação social desportiva portuguesa, com raríssimas excepções (geralmente, na altura dos jogos da selecção), deprecia esta estratégia do Sporting de valorização de jogadores nacionais da sua cantera, privilegiando, ao invés, as novidades decorrentes da aposta dos nossos principais rivais em novos “craques” do mercado sul-americano? Porque é que o Sporting não tenta valorizar mais essa aposta distintiva, no confronto mediático com os seus principais rivais (naturalmente, sem patrioteirismos bacocos)? E agora a questão de um milhão de dólares: com o regresso da dupla Duque & Freitas, essa aposta prioritária na cantera leonina é para continuar, ou vamos voltar ao desvario das aquisições da pré-época 2000/2001?

6 comentários:

  1. os craques do sporting não vieram da academia.

    da academia até hoje só vieram jogadores medianos.

    os craques da última equipa campeã do sporting eram 'velhos' comprados no estrangeiro.

    ainda me hão-de explicar o que trouxe de novo e bom ao sporting essa história da academia, sem ser os negócios que se fizeram para a sua construção...

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  2. Bom artigo.
    Já partilhei a minha opinião com alguns amigos que só mesmo a FIFA/UEFA/Liga podem (re) capultar a competitividade do Sporting se forçarem verdadeiramente todos os plantéis e 11 iniciais a terem em % considerável jogadores nacionais e da cantera.

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  3. anónimo das 12:57, basta olhares para a selecção e veres onde começaram. Independentemente de se terem desenvolvido ou não no Sporting, foi o Sporting quem neles apostou para se mostrarem ao mundo. Se tivesses dois neurónios, pensavas antes de "falar".

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  4. ana, pelos vistos tu é que não tens neurónios...

    eu não disse que não foram formados pelo sporting.

    eu disse que nenhum de jeito foi formado na academia.

    percebes a diferença ou precisas de um neurónio emprestado?

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  5. Caros Amigos,

    Estive a reler o post para confirmar que em nenhum momento falo da Academia. Só a apresentei na fotografia enquanto imagem do post, mas estive hesitante até à última hora entre essa imagem e uma foto do Boloni com o Cristiano Ronaldo. Não vou por isso entrar agora aqui em grandes considerações sobre a importância de dispormos ou não da Academia, até porque não era esse o tema tratado no post (daqui a uns tempos tentarei falar sobre isso).

    Na última vez que fomos campeões, é verdade que Jardel teve um peso decisivo, mas também foi a época de lançamento de dois bons valores da nossa cantera (Quaresma e Hugo Viana). Como é evidente, não é possível termos a ambição de ser campeões apostando apenas em jogadores da cantera leonina; temos que temperar essa juventude com jogadores de qualidade para postos chave, como foram o caso nos últimos anos de Liedson, Polga, André Cruz, Shmeichel, Acosta ou, acima de todos, Jardel.

    Para terminar, é verdade que nos últimos anos não formamos nenhum Cristiano Ronaldo ou Figo nas camadas jovens, mas isso, meus amigos, nenhum clube do mundo consegue ter todos os anos génios a emergir da sua formação. Alíás, ao nível mundial, só mesmo o Sporting é que conseguiu na última década ter dois "Bolas de Ouro" formados na sua cantera. Acho que, pelo menos sobre isso, todos estaremos de acordo.

    Saudações leoninas

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  6. ok, na "cantera" então...

    Quantas vezes fomos campeões, ou qual a percentagem de títulos que conquistámos, graças (aqui o termo é subjectivo, já sei) à "cantera"?

    0 (zero)?

    O Sporting existe para alimentar a FPF (com os Saleiros?!) enquanto eles vão buscar os Falcões e Saviolas?! Ah, esqueci-me, nós damos os Liedsons, da "cantera", claro...

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